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RELEMBRANÇAS DO CRUTAC
09.03.2006

Por vários anos, trabalhamos no Crutac, projeto pioneiro de extensão universitária, criado pelo primeiro reitor da UFRN, Onofre Lopes. Nas nossas relembranças de médico e professor desse tempo, algumas passagens avultam na memória, muito mais ainda para quem as vivenciaram, como é a que passamos a relatar. Gley Nogueira Fernandes Gurjão é um dos mais renomados médicos (otorrinolaringologista) do Rio Grande do Norte. Atualmente, professor aposentado da UFRN, continua no exercício pleno da profissão, aliando competência, humanismo, liderança e simpatia pessoal. Gley, em 1966, era concluinte de medicina e fora designado, dentro do estágio obrigatório do Crutac, para ir a Santa Cruz, compondo a equipe de saúde. Certo dia, chega ao Hospital do Crutac uma pessoa pedindo socorro para uma mulher que sofria muito desde a madrugada, residente em sítio distante cerca de duas léguas de Santa Cruz. Estava em trabalho de parto, mas “o menino não saía”, apesar da ajuda de uma parteira. Foi, então, determinado que dois concluintes de medicina se dirigissem à casa da gestante, a fim de removê-la para o Hospital, após as medidas de urgência. Lá se foram na ambulância o aluno Gley Nogueira e a aluna Ivoni Vieira de França, líder das ações nesse caso e que depois se tornou excelente especialista em obstetrícia e ginecologia. Típica casa de taipa em forma de chalé, pequena, não se sabe como abrigava aquela família de vários filhos. Na sala, simples tamboretes e um quadro de santo com algumas fitas a ornamentar. Sentada em um canto, uma mulher parecendo pouco chegada a hábitos higiênicos, com cachimbo na boca. Era a parteira do local que foi logo dizendo: “Doutor, já fiz tudo, de aperto na barriga a reza forte, mas o bruguelo num qué sair não”. A grávida gemia, deitada em uma cama tosca, no único quarto da casa, pequeno, quente, iluminado por lamparina de querosene. Os dois estudantes, que já haviam passado pelo estágio na Maternidade Escola Januário Cicco, levavam material esterilizado para atendimento de urgência. Inicialmente, pelo exame do abdome, verificaram que a criança estava em posição transversa e já apresentava sofrimento fetal. Resolveram, então, tentar manobra para transformar em apresentação pélvica, a qual foi bem sucedida. Com isso, o parto ocorreu de imediato, sob a assistência dos dois estudantes, que estavam assim meio perplexos, mas orgulhosos do desempenho e do êxito da missão. Terminado o atendimento naquelas precárias condições, os dois acadêmicos resolveram que mãe e filho deveriam ser levados a Santa Cruz, dada a possibilidade de futura infecção. Quando estavam nos preparativos para saírem, ouviram agitado cacarejo no quintal, anúncio de que aves estavam sendo perseguidas. Em seguida, chega o marido da parturiente com bonita galinha entre as mãos: “Tome, Doutor, é a única maneira que tenho para lhe agradecer”. Gley sorriu e disse ao pobre homem que deixasse a “criação” para alimentar a mulher durante o “resguardo”, pois estava ali em tarefa normal do Crutac, projeto diferente de tudo que ele havia visto até então, no qual as pessoas atendidas não precisavam se preocupar com pagamentos ou presentes, nem, tampouco, com votos durante as eleições.

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