O toque da borboleta e sua função integradora

O toque da borboleta e sua função integradora: A prática do cuidado com bebês institucionalizados

Sabe-se que tanto o crescimento físico quanto o desenvolvimento emocional do ser humano, podem ser traduzidos em uma única história, podendo ser escrito antes, durante e após o nascimento. Logo, a ausência ou negligência dos pais nesse processo, pode acarretar em sérios danos à integridade biopsicossocial do individuo. Na prática com bebês institucionalizados, podemos perceber o quão fundamental foi a aplicação da teoria da bioenergética suave, com o toque da borboleta, para um atendimento humanizado e preventivo com estas crianças que tão cedo passaram pelo processo de separação do seio familiar, por encontrarem- se em situação de risco.

O toque da borboleta é uma técnica psicoterapêutica, desenvolvida por Eva Reich, pediatra e psicoterapeuta, que inspirada na teoria de profilaxia e prevenção da neurose de seu pai , Wilhelm Reich, e na bioenergética suave, trabalhou na perspectiva da educação preventiva com gestantes e bebês, na intenção de obter-se uma sociedade mais saudável emocionalmente. 

Nesta teoria, saúde significa o pleno desenvolvimento e satisfação dos impulsos naturais do individuo, enquanto que a neurose é a não realização desses desejos, implicando no bloqueio do fluxo neurovegetativo do sujeito, impossibilitando que a energia flua naturalmente, e assim gere um ser incongruente em seus sentimentos, pensamentos e ações na vida.

Eva Reich , em sua prática clínica, procurou minimizar os danos observados em bebês prematuros, que foram separados de suas mães ou que sofreram algum tipo de complicação no parto ou na fase intra-uterina, utilizando-se do toque da borboleta, como ferramenta fundamental em seu trabalho.

São toques suaves capazes de atingir a bioenergia do sujeito, possibilitando o fluxo energético natural do ser, desbloqueando a energia interrompida pelos danos oriundos do estresse emocional e corporal vivenciados pelo bebê, e ativando as áreas comprometidas por esse bloqueio. Além de ativar a energia e desbloquear esses pontos de tensão, estes toques possibilitam também uma sensação de bem estar e prazer ao bebê, fazendo com que este se sinta vivo e amado.

No inicio do trabalho com os bebês institucionalizados, verificou-se apatia, ausência de linguagem verbal, corpo tenso, marcha vacilante ao se locomover, sonolência durante o toque da borboleta e pouca interação ocular e corporal dos bebês com a terapeuta durante os atendimentos. Ao longo dos meses, com a continua estimulação e prática do toque borboleta nos bebês, percebeu-se uma evolução considerável nos itens citados, onde verificou-se ao final do processo de 8 meses de atendimentos semanais, um bom vinculo entre bebês e terapeuta, formação, construção e compreensão de palavras e algumas frases, exploração da sala de atendimento e brinquedos, firmeza ao andar, interação e contato ocular durante o toque da borboleta, confirmando assim, a relevância do pensamento preventivo reichiano, da teoria da bioenergética suave e do toque da borboleta, na prática terapêutica com bebês.

Desta forma, pode-se afirmar que a utilização dos conceitos do trabalho preventivo reichiano e o toque da borboleta com bebês em situação de risco, são relevantes para o desenvolvimento integro das funções neuropsicológicas do bebê, que acarretarão em seu bom desempenho cognitivo, sensório-motor e emocional, permitindo-lhe a reintegração emocional e o reestabelecimento das áreas possivelmente afetadas pela separação prematura de seus pais biológicos, possibilitando –lhe crescer de forma mais saudável , contribuindo para a formação de uma sociedade mais humanizada e integralizada biopsicossocialmente.

Palloma Nunes

Estudante concluinte do curso de Psicologia