O sonho de Stefan Zweig - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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O sonho de Stefan Zweig

Carlos Heitor Cony consegue a proeza de transmitir, em poucas linhas, muitas ideias claras, com uma escrita de pensamento refinado. Sua ampla cultura favorece essa magia de dizer tanto em tão pequeno espaço, a exemplo das suas crônicas publicadas na Folha de S. Paulo. Há poucos dias, em uma dessas crônicas, Cony relembrou Stefan Zweig (1881-1942) que sonhava com uma condição humana única e solidária, com um mundo no qual as pessoas se movessem de um país para outro sem entraves nem barreiras. Portanto, um total contraste com o atual drama vivido pelas levas de refugiados na Europa.

Fiquei a pensar a respeito desse sonho de Stefan Zweig, de um mundo sem tanta divisão, mais coeso, cooperativo e altruísta. Decidi, então, reler o livro “Autobiografia: o mundo de ontem”, o último desse famoso escritor, entre os mais de 50 que deixou como legado imortal para a humanidade, sendo algumas obras-primas. Zweig escreveu esse livro no curto período em que residiu no Brasil, de agosto de 1941 a fevereiro de 1942.  Ele e sua segunda esposa, Lotte, mataram-se dentro do bangalô no qual moraram, na rua Gonçalves Dias, 34, na cidade de Petrópolis, RJ, transformado em museu – Casa Stefan Zweig – desde 2006, sob a direção do jornalista Alberto Dines. No prefácio do livro “Autobiografia: o mundo de ontem”, Alberto Dines afirma que essas memórias o autor terminou de escrevê-las pouco antes de tomar a dose letal de sedativos. Dines alega que, no geral, os escritores só redigem os prólogos depois do ponto final do conjunto da obra.  E chama a atenção para as últimas palavras do prólogo, escrito pelo próprio autor: “Portanto, recordações, falem e escolham no meu lugar, e forneçam ao menos um reflexo da minha vida antes que ela submerja nas trevas!”

Durante vários anos da primeira metade do século passado, Stefan Zweig foi um dos autores mais vendidos e um dos mais famosos escritores do mundo. Em suas memórias, ele diz que alguns títulos seus chegaram a vender mais de 20 mil exemplares em poucos dias. Austríaco, judeu, humanista e pacifista, sentiu de perto os efeitos nocivos das duas grandes guerras do século XX. A primeira – 1914 a 1918 – fez-lhe sofrer pela agressão às suas convicções de pacifista, conforme ele mesmo afirmou: “... parecia-me um anacronismo criminoso no século XX ser treinado para manejar instrumentos assassinos”. Na 2ª Grande Guerra, Zweig sofreu muito mais, apesar de vivê-la por menor tempo, pois a sua morte ocorreu em 23 de fevereiro de 1942.  Foi vítima do nazismo, por sua condição de austríaco e de judeu, e amargou, pela segunda vez, a dor do ultraje às suas convicções de pacifista e humanista. Ele não entendia que tipo de humanidade era essa, na qual as pessoas tinham de ter provas de pertencerem ao mundo; ele, cosmopolita convicto, que sonhou com um planeta sem fronteiras e sem passaportes, com uma Europa única, tema presente na crônica de Cony, citada no começo deste texto.

A obra em apreço é o canto do cisne de Stefan Zweig, cuja fonte foi tão somente a memória do autor.  E ele mesmo assim diz: “... essas minhas recordações escrevo-as no estrangeiro e sem o menor auxílio. De todo o meu passado, portanto, só tenho comigo o que carrego atrás da testa”.

Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN


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