O que é o tempo - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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O que é o tempo
18.01.2007

Passei vários anos fazendo economia a fim de construir uma casa para minha família, que oferecesse, para mim também, ambientes acolhedores e confortáveis. O terreno, que eu havia comprado há anos, era ainda quase isolado em termos de vizinhança, porém localizava-se em bairro que crescia rapidamente. Contratei a construção dos muros e plantei, pessoalmente, várias árvores, distribuídas pela área, já deixando o espaço no qual a casa deveria ser edificada. Deu para acomodar bem um cajueiro, uma mangueira (manga rosa), sapotizeiro, jaqueira, três coqueiros, duas goiabeiras, além de pitangueiras. As sementes foram plantadas no período de chuvas e, com a ajuda de simples adubação, germinaram lindamente. Contudo, veio a estiagem e as plantinhas só não morreram por causa da generosidade de seu José, um vizinho a quem pedi ajuda. Uma “pena d’água” da CAERN foi instalada e o vizinho prestimoso, homem simples e bom, ficou encarregado de cuidar das árvores e garantir-lhes o crescimento. Cabelos brancos e corpo já alquebrado pelos anos, trabalhou durante a construção da casa, sendo o decano dos operários, deles recebendo atenção especial. Anos depois, já ocupando a nova residência, tive a oportunidade de dizer a seu José que as frutas daquelas árvores que ele havia tratado com tanto carinho estavam à sua disposição, ao atender-lhe humilde pedido de alguns cocos verdes. E assim foi feito até seu falecimento ocorrido após algum tempo. O projeto da casa foi elaborado pelo grande arquiteto Ubirajara Galvão que será sempre uma referência exponencial da profissão no Rio Grande do Norte. Para mestre-de-obras convidei Chico Lucas, pedreiro diligente e hábil, que aprendera o ofício com o pai, também operário diferenciado. Impressionava-me a rapidez como o mestre-de-obras entendia as explicações passadas pelo arquiteto. Assim, a casa foi construída com absoluto esmero. A equipe de trabalho contava, ainda, com o pintor Naldo, de quem eventualmente tenho contratado os serviços profissionais, por mais de 35 anos, e o carpinteiro Otávio velho conhecido nessas lides, ambos muito capazes. Recentemente, precisando renovar a pintura da casa, construída há quase três décadas, chamei o mesmo pintor. Em dado momento, ele fez uma pausa na tarefa que realizava e me disse: - Doutor, depois de tantos anos, a casa ainda parece nova. Nesse tempo que passou já morreram o arquiteto Ubirajara Galvão e o mestre Chico Lucas. - É isso mesmo, mas você esqueceu de outros, como o carpinteiro Otávio, que, há pouco tempo, morreu no trabalho, ao cair da cobertura de um prédio. O tempo, Naldo, é testemunha de grandes e inesperadas mudanças. Por alguns instantes ficamos calados, talvez a pensar nos mistérios da vida. Então, quebrei o silêncio ao dizer-lhe: - Vamos nos cuidar, amigo, pois agora só restam o dono e o pintor... Rimos os dois, um riso meio amarelo, como se quiséssemos enganar o tempo. Mas o tempo não se engana, nem se define, conforme pensamento de Santo Agostinho: “Se ninguém me perguntar, eu sei o que é o tempo. Mas se alguém me pergunta eu não sei o que dizer”.

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