Futebol: prosa e poesia - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Futebol: prosa e poesia
15.06.2006

O avô coruja admira a coordenação motora e a força do chute canhoto do neto de três anos: “-- Parece até o Rivelino!”. Dois netinhos, com mais idade, tentaram esportes diferentes, e até que levavam jeito, mas terminaram optando pelo futebol, no qual são extremamente habilidosos! Outro garoto da família, não muito chegado ao futebol como os anteriores, tem com a mãe o seguinte diálogo: “-- Filho, você não vai para o jogo? -- Vou, mas não tem pressa, pois sou reserva”. Ao voltar, o menino trazia uma medalha. “-- Que bom, parabéns pela medalha, meu campeão! Qual foi a classificação do seu time?” E o menino, com um discreto sorriso: “-- Para incentivar, deram medalha até ao último colocado.” Cenas e historinhas semelhantes a essa são freqüentes nos lares e famílias do país. Em se tratando de futebol, sentimentos e emoções se identificam e se repetem em quase todos os brasileiros. A “pátria de chuteiras”, para alguns uma prejudicial ilusão coletiva, evidencia-se a cada Copa do Mundo, quando o verde-amarelo enche as ruas e os corações. Está na Internet um artigo interessante, que aborda ensaio do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini ( 1922 – 1975 ) sobre a “poética do futebol”. Conforme Pasolini, o futebol é uma linguagem não verbal, com um sistema de signos. Como na linguagem escrita-falada, existe também um código gramatical, comum a qualquer time, que se expressa na marcação, passe, chute, lançamentos, entre outros momentos do jogo. A sintaxe se exprime na “partida”, que não deixa de ser um verdadeiro “discurso dramático”. O ludopédio, palavra que poderia substituir o neologismo advindo de foot-ball, possui o lado subjetivo, expressivo. Assim, o futebol estaria dividido entre prosa e poesia. O atleta que usa a prosa é cerebral, tem domínio da bola, visão de jogo e passes que buscam a perfeição. Na prosa, predominante na retranca e na triangulação, o jogo é coletivo e organizado, devendo obedecer, dentro do possível, ao código gramatical. A poesia no futebol são os lances de invenção, os dribles e os gols. Bola na rede é pura poesia, é o instante sublime do soneto. Ambos os estilos podem surpreender com lances geniais. O escritor italiano conclui sua tese: “Se o drible e o gol são o momento individualista-poético do futebol, o futebol brasileiro é, portanto, um futebol de poesia”. Há quem relacione o futebol ao teatro, sendo os estádios as arenas da modernidade para grandiosos espetáculos populares com real poder de catarse. O dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues (1912-1980) viu essa relação: “Futebol e teatro. Para os bobos, não existe a menor relação entre uma coisa e outra. Ilusão. Existe sim. O futebol vive de seus instantes dramáticos, e um jogo só adquire grandeza quando oferece uma teatralidade autêntica”. Nos meios acadêmicos, estratégias futebolísticas, “mutatis mutandis”, podem ser usadas para se obter boa administração de empresas e negócios. Enfim, o futebol, visto como linguagem de prosa ou poesia, como expressão teatral, como arte ou estratégia para eficácia administrativa, seja visto da forma que for, representa paixão e alegria do povo; e quando se trata de seleção brasileira, renasce a auto-estima, cresce o sentimento de brasilidade e se afirma a identidade nacional. Vamos ao hexa!

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