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Brilhante, probo e bom*
17.04.2008

Vejo-o ainda rapaz-menino, por trás do balcão da loja de tecidos de seu Batista, em Santo Antônio do Salto da Onça. Eu tinha ido ajudar na pequena loja de meu pai, que abria somente aos sábados, dia de feira naquela cidade vizinha de Nova Cruz. Já era final de feira, mas ele continuava bem ativo, a arrumar os tecidos e atento a tudo, inclusive ao amigo que ali chegava. Guardo essa lembrança e sei o quanto foi importante para o Ministro José Augusto Delgado aquele aprendizado de vida, o contato com as pessoas simples, o valor do trabalho sério e honesto, a luta por um ideal a ser seguido dia a dia e a ser conquistado com obstinação. Seus pais eram amigos dos meus pais, tinham a mesma profissão e sonhavam sonhos semelhantes para a família. Educaram os filhos dentro dos princípios cristãos, mostrando o valor do trabalho e da busca por novos saberes. Estudar era a premissa básica, mas todos deviam ajudar na loja, pois ela dava o sustento e garantia a chance de procurar novos caminhos. Quando penso nos preclaros êxitos de Delgado, recordo da sua bondosa mãe, dona Neuza, muito calma e sensata, a ajudar no labor da família. Lembro do seu pai, o velho Batista, expansivo, brincalhão, amigo dos amigos, cheio de energia, a falar com todos de forma muito cordial. Comerciante em Santo Antonio e em Natal, sua imagem ficou marcada pelo sorriso aberto e pela alegria constante. O casal formou uma família que cresceu sob a égide do trabalho, da fé e do olhar no futuro. E Zezé Delgado? Mulher extraordinária, autêntica e sincera, nunca usou os cargos ocupados pelo marido para se exibir ou para se aviltar no orgulho fútil. Mantém-se a mesma, sem ostentações nem melindres. É uma pessoa rara; inteligente, poeta, culta, seu valor é intrínseco. É a cara-metade de Delgado, e vice-versa, os dois se completam e se amam. Um dos norte-rio-grandenses que mais se destacaram no Brasil, José Augusto Delgado tem sua vida traçada em uma direção, por meio do rigor e da pertinácia nos estudos, em especial no campo da cultura jurídica, bem assim da honradez e da ética plenas. Sóbrio, nunca perdeu o jeitão simples nem jamais abjurou suas raízes humildes, apesar dos altos cargos e funções que exerceu e exerce. Ser um dos maiores juristas do país não mudou seu perfil de homem solidário, afável e ligado à sua terra e à sua gente. Impressionou-me o número de pessoas de todo o país presentes a sua posse na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Poucos sabem fazer e manter amizades o quanto ele sabe. Somos amigos desde crianças. Moramos, quando jovens, em uma casa que recebia estudantes do interior, a pensão de dona Lica. Era, então, chamado por todos de “titio”, pelo seu dom de acalmar os ânimos e de ajudar na hora certa.Gostava de paquerar e sabia se divertir, mas, ao receber convite para ir a alguns tipos de farras, vinha logo sua resposta: “Tudo, menos isso”. Não obstante ter sido aluno do clássico − área de humanas −, ensinava matemática aos colegas, o que fazia crescer um pouco sua mesada. Foi e será sempre o mesmo: brilhante, probo e bom. Há um lastro de coerência a unir todas as fases da sua vida. Agora, ao se aproximar o momento de deixar o Superior Tribunal de Justiça, pela idade, vejo-o igual àquele garoto da loja de tecidos do seu pai, no final da feira de Santo Antonio, atento e ativo, graças a Deus, pronto para novas tarefas, pois ainda tem muito a fazer pelo Direito e pela Justiça do Brasil. * Texto a ser publicado em livro biográfico de autoria de Diogenes da Cunha Lima.

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