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Rua Meira e Sá, 127
07.06.2011

Nasceu e cresceu em sítios da região de São José de Mipibu e de Papari. Menino pobre, montado em um cavalo, veio morar em Natal, na casa de uns parentes ricos. O garoto da roça ficou assustado quando entrou no casarão de luxo, situado no centro da cidade, no Grande-Ponto, esquina da rua João Pessoa com a avenida Rio Branco. Ali, onde hoje existe uma loja moderna, havia uma das mais bonitas casas de Natal, residência do casal Joca Freire e Chiquinha: muitos vitrais, assoalhos, esculturas, cristaleiras, móveis nobres, castiçais, peças vindas da Europa. Eram os anos de 1920, e o menino José Teóphilo Freire, pouco a pouco, foi se habituando com os costumes da família e com a nova vivência na capital. Joca Freire, alto comerciante, e Chiquinha não tinham filhos, e, assim, logo se apegaram ao sobrinho. Eles também adotaram uma menina chamada Lili, que passou e ser uma outra irmã de José Teóphilo Freire. Por esse tempo, chegou a Natal uma família vinda do Ceará, um casal de meia idade, com uma menina-moça muito bonita, quase loura, olhos azuis belíssimos. A beleza dessa jovem chamava a atenção por onde ela passava. Sua mãe, mulher alta, cabelos longos, tipo senhorial, gostava de cantar modinhas e de tocar violão; era conhecida pelo apelido de Paroca e, por isso, sua bela filha, Sebastiana Rios de Lira, passou a ser chamada de Paroquinha. Dona Paroca veio para Natal porque casou em segunda núpcia com Augusto Bacurau, que se mudou para o Rio Grande do Norte a fim de assumir o emprego federal de fiscal do consumo. Augusto, homem austero, íntegro, tinha saído também de um primeiro casamento, com uma irmã do general Juarez Távora. O casal teve cinco filhos rio-grandenses do norte: Luiz, Newton, Epitácio, Juarez e Zélia. Após a morte precoce de Augusto Bacurau, Paroquinha tornou-se a líder dos seus irmãos por parte de mãe. José Teóphilo Freire não era muito voltado aos estudos, mas gostava de trabalhar. Embora fosse pobre, era tido como um rapaz rico, por causa das condições ótimas dos afortunados parentes. Frequentava ambientes chiques e chegou a dirigir um dos primeiros carros a circular pelas ruas de Natal. Em uma dessas festas nos salões natalenses, na década de 1930, José Freire cruzou o olhar com uma jovem linda, dona de brilhantes olhos azuis. Foi amor à primeira vista, começou logo o namoro: José e Paroquinha noivaram, casaram e selaram uma união que perdurou por toda a vida. O casal teve quatro filhos: Emmanoel (Lito), Ana Maria, Margarida e Cristina, que multiplicaram os descendentes. A família residiu em vários pontos da cidade, até que, na década de 1950, se fixou na rua Meira e Sá, 127. Aquele porto seguro do Barro Vermelho não só serviu de morada mas também de ponto de encontro de amigos, de meninos e de meninas; depois, de moças e de rapazes do bairro, foi local de festas e de tribulações, de tantos momentos alegres e alguns de tristezas, mas, sobretudo, foi abrigo físico ou emocional para quantos lá chegassem à procura de apoio. Duas pessoas com poucos bens materiais, mas ricas em valores humanos. José Freire, meu sogro, morreu em 2004, aos 97 anos. Homem bom, feliz, justo e calmo. Paroquinha, minha sogra, mulher de bondade, austera nos momentos certos, enfrentou e venceu desafios. Morreu há poucos dias no próprio lar, aos 94 anos, sem sofrer, sem precisar de UTI ou mesmo de hospital. Na hora de dormir, entrou sorrindo no quarto e, ao sentar na cama, ali, sua vida findou, como a chama de uma vela que se extingue. Para a família, ficam as perenes e boas lembranças, graças a Deus. Fica também a saudade, inclusive da casa com as varandas, o santuário, os retratos e o relógio de pêndulo na parede, os móveis simples em seus lugares, saudades da casa com os seus habitantes, rua Meira e Sá, 127. Repito a frase de Tristão de Athayde, citada pelo amigo Carlos de Miranda Gomes, em recente texto escrito sobre esses seus vizinhos: “O passado não é aquilo que passa, mas o que fica do que passou”.

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