Ficção da vida real (2) - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Ficção da vida real (2)
19.07.2007

“Janela de helicóptero cai numa rua movimentada do Alecrim. (...) Peça da aeronave da Marinha foi encontrada por populares (Tribuna do Norte – 13/06/07)”. Ainda não haviam completado um ano de casamento. Viviam felizes e já planejavam os filhos que deveriam ter, três pensava ela, e dois era a opção dele. Só uma coisa a mulher não conseguira do marido: levá-lo à igreja regularmente, pois ela, desde a infância, fora habituada a freqüentar os cultos evangélicos ao lado da família. Ele viera do interior, filho de um pequeno proprietário de terras no sertão. Seu pai era muito trabalhador, rigoroso em tudo, um homem de palavra. Sempre ensinava aos filhos honrar os compromissos e dizer a verdade. Gostava de contar a história de um parente distante, campeão em mentir e que, por castigo, foi fulminado por um raio. O casal morava em casa própria, adquirida há pouco, com financiamento de longo prazo. Os dois trabalhavam e os salários se completavam para as despesas e até sobravam algumas economias. A compra de um carro já estava programada. Todavia, como tudo não é perfeito, ele sentia falta dos alegres encontros em alguns bares da cidade, quando se reunia com amigos e amigas, quase todos os fins de semana. A cerveja era a bebida de preferência, tomada com requinte ao ponto de, com os olhos fechados, identificar a marca do precioso líquido. Com o namoro, sua presença nesses encontros tornou-se cada dia mais escassa e, após o casamento, desapareceu de vez. Certo sábado à tarde, ele saiu para comprar ração do cachorrinho “poodle”, mimo da sua mulher. Por sorte - ou por azar- dá de cara com um velho amigo das farras de tempos atrás. Aceita o convite para tomar só uma cervejinha, juntamente com o grupo que estava em um bar nas proximidades. Foi recebido com tanta festa que esqueceu a ração do animalzinho e passou a comemorar o reencontro com os amigos. Telefonou para a mulher a fim de dizer que chegaria para o jantar e desligou o telefone. Já passava das 23 horas quando ele chegou em casa e foi recebido assim: -- Como é que você faz uma coisa dessas, sai para comprar ração e volta embriagado? -- Tomei somente dois copinhos de cerveja e, quando vinha para casa, de carona, o carro do meu amigo quebrou e eu tive de ajudá-lo a conseguir um reboque. Depois de muita discussão, ele fez figa com a mão esquerda e disse: -- Se não for verdade o que estou dizendo, que caia do céu uma pedra ou seja lá o que for na minha cabeça. Nesse momento, lembrou-se da história do parente atingido por um raio... Reconciliados, poucos dias depois, saíram para visitar pessoa da família. Passavam por uma rua movimentada quando, de repente, um objeto retangular caiu do alto e quase os atinge. Foram correndo para a igreja, onde ele contou toda a verdade daquela noite. Arrependido, a partir de então, aderiu à religião professada pela mulher. Mesmo quando soube que o objeto havia se desprendido de um helicóptero, manteve a certeza de tratar-se de castigo pela mentira proferida, pois a porta de aeronave militar só cairia em rua movimentada se fosse para servir como mensagem de Deus. Em dado momento sorriu, ao lembrar da fábula do Pinóquio, com o nariz crescendo a cada mentira: “Como ficariam muitos dos atuais políticos brasileiros?” E a mulher, em pensamento repetia: “Obrigada Senhor, não há um mal que não traga um bem, obrigada Senhor”.

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