Cenas de Viagem (2) - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Cenas de Viagem (2)
25.09.2008

Em crônica que escrevi sobre cenas vividas em recente viagem à Europa, reportei-me a uma linda mulher de Andorra, na direção de um carro conversível vermelho. Hoje, divido com os poucos leitores novas impressões de visitas a outras terras. Quando digo poucos leitores, não é por otimismo, pois sei que os tenho, haja vista alguns comentários que me chegam, como foi o caso da mulher em trajes leves e ousados, bronzeada pelo sol do verão nos altos dos Pirineus. Agora, puxo pelas lembranças vindas de um lugar sagrado que visitei. A basílica do Sagrado Coração, a Sacré- Coeur de Paris, no topo da colina de Montmartre, é um dos mais belos monumentos católicos em todo o mundo. Por duas vezes pude receber as graças no interior do templo. A quietude, o silêncio total e a beleza da arte sacra elevam à reflexão sobre a grandeza do mistério de Deus. Naquela hora, meus olhos não somente viram mas também choraram. Disse Padre Vieira, no Sermão das Lágrimas de São Pedro, na Catedral de Lisboa, em 1669: “Cantou o galo, olhou Cristo, chorou Pedro. Que pregador haverá em tal dia, que não fale em confiança de converter? Que ouvinte haverá em tal hora, que não ouça com esperança de chorar?” E mais adiante: “Todos os sentidos do homem têm um só ofício; só os olhos têm dois. O ouvido ouve, o gosto gosta, o olfato cheira, o tato apalpa, só os olhos têm dois ofícios: ver e chorar”. O escritor Rubem Alves assim expressa sua visão da presença divina: “Tudo o que vive é pulsação do sagrado. As aves dos céus, os lírios dos campos... Até o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é uma música do Grande Mistério. E acrescenta: “Se Deus mora numa casa, estará Ele ausente do resto do mundo?”Não há como discordar desse pensamento. Contudo, existem lugares e momentos em que o Criador, como um enigma, parece se revelar. A Sacré-Coeur de Paris tem a primazia de levar à contrição, de trazer a paz e de ressaltar esse enigma de fé. No pórtico da entrada, as grandes estátuas eqüestres de Santa Joana d’Arc e de São Luís impressionam, além da estátua de Jesus, em gesto como se estivesse a abençoar Paris à margem do Sena. No interior da basílica, a atenção se volta para o famoso mosaico de quase 500m², com a imagem central do Cristo vestido de branco, tendo um brilhante coração em primeiro plano. Aos lados, em adoração, a Virgem Santíssima, São Miguel, Santa Joana d’Arc, a França personificada, em gesto de oferta da sua coroa, e, mais ainda, um Papa de joelhos que oferece o globo terrestre. Ao pé do mosaico, em latim, está escrito: “Ao Santo Coração de Jesus, a França penitente e reconhecida”. A Sacré-Coeur foi erguida a partir da fé e da coragem dos franceses, frente aos reveses da guerra franco-prussiana de 1870. A basílica enfrentou muitos percalços, inclusive sofreu bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. É um lugar cívico-religioso importante da França e um templo de referência e de reverência para os católicos do mundo. Pretendo voltar à bela igreja do Sagrado Coração de Paris. No entanto, será melhor evitar outro educado e merecido carão, igual ao que me foi passado por um zelador da basílica quando sussurrei com meu pequeno grupo de viagem sobre detalhes do ostensório. Aliás, o ostensório é de uma beleza sem par, com dois anjos de prata a sustentá-lo, tendo no centro da custódia a hóstia consagrada. Sinto essas emoções atuais como algo nascido há tantos anos, nas missas dos domingos, nas aulas de catecismo e nas novenas do mês de maio, vividas na singela Igreja Matriz de Nova Cruz. Essa igreja, todavia, continua a ser vista por mim como a mais bonita do mundo, da mesma forma como viam os olhos do menino da imbatível Cruzada Eucarística.

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