Capela Sistina (2) - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Capela Sistina (2)
19.11.2009

Volto a comentar um pouco sobre a Capela Sistina e a obra de Michelangelo, o enigma que a envolve e os estudos em busca de decifrá-lo. Em artigo anterior, fiz rápidas considerações a respeito do livro Os Segredos da Capela Sistina, lançado em 2008, autoria de Benjamim Blech e Roy Doliner. Desta vez, detenho-me em mínimas apreciações nascidas da leitura do livro A Arte Secreta de Michelangelo – Uma Lição de Anatomia na Capela Sistina, edição de 2004, autoria do médico cirurgião Gilson Barreto, e do Doutor em Ciências Marcelo G. de Oliveira, ambos com atuação acadêmica no estado de São Paulo. Trata-se de livro com belas ilustrações, aliadas a um conteúdo que foca em nuances a arte de um dos maiores gênios do Renascimento. Talvez seja esta a pesquisa mais completa da influência da anatomia na obra de Michelangelo. O menino nasceu no dia 6 de março de 1475, em Caprese, nas montanhas toscanas, e recebeu o nome de Michelangelo Buonarroti. Aos 13 anos, foi residir em Florença, coração do Renascimento, para trabalhar como aprendiz em uma oficina de artistas. Pouco depois, recebeu o apoio de Lorenzo de Medici, O Magnífico, fato que muito influenciou sua vida. Seus principais mestres foram Marsilio Ficino e Giovanni Pico della Mirandola. Michelangelo se sentia mais escultor do que pintor e fazia questão de expressar seu maior gosto por essa forma de arte: “Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; e a vejo de maneira tão clara como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e na ação. Tudo o que eu tenho a fazer é desbastar as paredes ásperas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus a veem”. Durante o Renascimento, ampliou-se a atenção para os estudos da anatomia humana, com destaque entre os notáveis do mundo da arte. O escalpelo, um tipo de bisturi, fazia parte dos instrumentos vistos em qualquer ateliê de algum pintor ou escultor. À época, no rol dos grandes nomes que se voltaram para os estudos anatômicos, há que se citar, em primeiro lugar, Leonardo da Vinci, mas outros artistas também fizeram dissecações e desenhos do corpo humano, entre eles Michelangelo que, em acesso de revolta, resolveu destruir quase todos seus trabalhos nessa área. Porém, se M. Buonarroti não quis revelar seus desenhos dos órgãos do corpo humano, ele o fez de forma sutil e velada em diversas de suas obras-primas, conforme mostra o livro A Arte Secreta de Michelangelo. Os autores viram e mostram imagens anatômicas subjacentes em vários painés da Sistina, em especial nos nove afrescos que preenchem o espaço central do teto da capela. Como exemplo, em A Criação de Adão, uma das imagens mais famosas em todo o mundo da arte, Deus está em pleno voo dentro de um manto esvoaçante, o qual delimita uma estrutura que se assemelha a um corte sagital do crânio. Quem já estudou neuroanatomia vê com clareza essa semelhança. Os querubins da cena se transmudam no lobo temporal, no tronco cerebral e na hipófise, dentro da calota craniana. O dedo indicador da mão direita do Criador quase toca a mão esquerda de Adão, que repousa o corpo sobre uma rocha. Michelangelo, pelos seus conhecimentos de anatomia, quis mostrar que o Criador transferiu o intelecto à criatura, no momento da criação, ideia pela primeira vez formulada, em 1990, pelo médico norte-americano Frank Meshberger. As páginas dos dois livros aqui citados trazem nova luz sobre a leitura que se faz dos afrescos da Capela Sistina. Se para os que se dedicam com afinco aos estudos da arte esses livros são valiosos, imagine-se para os curiosos e leigos, entre os quais me incluo. Como é bom ter condições para discernir, com mais convicção, a essência de uma obra de arte.

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