Zweig: Salzburgo e Bath - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Zweig: Salzburgo e Bath

Ao final da Primeira Guerra Mundial, com a sua pátria destroçada, Stefan Zweig partiu de trem da Suíça para Salzburgo, cidade na qual pensava em residir. Tinha ido a Genebra a fim de conversar com seu grande amigo Romain Rolland, famoso escritor e também pacifista convicto. Ao chegar à estação austríaca de Feldkirch, na fronteira, percebeu um movimento estranho, com as atenções voltadas para um outro comboio que também chegara ao local. Zweig, então, descreve: “Foi quando reconheci atrás da vidraça espelhada do vagão, ereto, o imperador Carlos, último imperador da Áustria, e sua esposa trajada de negro, a imperatriz Zita. Estremeci: o último imperador da Áustria, herdeiro da dinastia dos Habsburgo, que durante setecentos anos havia governado o país, abandonava o seu reino! (...) a República lhe concedera – ou melhor, impusera-lhe – a saída do país com todas as honras”.  Essa passagem histórica faz lembrar um episódio similar que ocorreu com outro imperador da linhagem dos Habsburgo, quando, em novembro de 1889, a República do Brasil impôs ao imperador Dom Pedro II a saída “honrosa” do país.

Assim, em 1919, com a Áustria submersa em grave crise social, Stefan Zweig trocou Viena pela pequena Salzburgo, onde morou por 15 anos, o período mais produtivo da sua vida de escritor. A casa ficava em uma colina coberta de florestas, tendo os Alpes à vista próxima, numa extremidade da Áustria. Era um pequeno castelo cheio de história, onde viveu ao lado da sua primeira mulher, a escritora Friderike Winsteritz, e onde montou sua biblioteca e sua célebre coleção de manuscritos de autores famosos, na música e na literatura. Em livro autobiográfico, Zweig diz que, nessa casa de Salzburgo, recebeu como hóspede ou somente para uma conversa, entre outros autores: H. G. Wells, Romain Rolland, Jakob Wassermann, James Joyce, Paul Valéry, Jane Addams, Thomas Mann, Arturo Toscanini, Ravel e Richard Strauss.

Ele destacou sua coleção de manuscritos, pois dizia que essas páginas contendo as primevas ideias de um gênio guardavam o segredo da criação: “Eu queria dos imortais, na forma da relíquia de seus manuscritos, precisamente aquilo que os tornara imortais.” Ao rever a lista da famosa coleção, sobressaem-se: uma folha do livro de trabalho de Leonardo da Vinci, uma ordem militar de Napoleão, a “boneca” de um livro inteiro de Balzac, uma cantata de Bach e uma ária de Händel, as canções ciganas de Brahams, algumas criações de Mozart, de Chopin, de Haydn e de Beethoven. Quando deixou para trás a casa dos seus sonhos, em 1934, indo morar em Londres, em face do aumento do poder de Hitler e como prevenção de prováveis tormentos, teve de se desfazer da sua amada coleção de manuscritos.  Nos albores da Segunda Guerra Mundial, saiu de Londres e residiu, por pouco tempo, na cidade inglesa de Bath, onde casou com Lotte, sua segunda esposa.

Já visitei Salzburgo e Bath, duas lindas cidades que se vinculam à vida de Stefan Zweig. Estive em Salzburgo por uma semana, em 2006, na celebração dos 250 anos de nascimento do gênio Amadeus Mozart. Em tempo mais recente, foi a vez de visitar a cidade inglesa de Bath, a duas horas de trem de Londres, pequena urbe onde residiu a notável escritora Jane Austen. Penso em retornar a essas duas cidades, até para perscrutar as marcas da presença local de Stefan Zweig.


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