Steiner e Bloom - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Steiner e Bloom
06.02.2014

O texto que publiquei neste jornal, em 23/01/14, sob o título Ricardo III, rendeu-me algumas menções favoráveis vindas de amigos e de eventuais leitores. Nesses anos em que escrevo, a cada duas semanas, uma crônica ou um artigo para a Tribuna do Norte, dá para sentir qual escrito mais agradou a quem me honra com a leitura. No presente caso, um dos comentários foi de Diogenes da Cunha Lima, pleno conhecedor da obra de Shakespeare e dos hábitos culturais ingleses. Diogenes, além de comentar o texto, disse-me que assistiu a esse drama histórico, em um teatro londrino erguido todo com estacas e vigas de madeira, no estilo clássico da época do bardo inglês – séculos XVI e XVII. Nesse teatro de Londres, tudo é feito de modo a recompor o passado, com grande parte da plateia de pé, e com personagens femininos interpretados por homens, vestidos de trajes próprios para os papeis vividos na ribalta.

Em um dos parágrafos do texto "Ricardo III", quis ressaltar o quanto Shakespeare dissecou os mais recônditos sentimentos humanos: a bondade e a maldade, as paixões nas suas várias formas, o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, a vitória e a derrota, a ambição e o desprendimento, a inveja, o ciúme, o deboche, a ironia, a guerra e a paz; enfim, tudo o que compõe e agita as emoções e o íntimo da vida do homem encontra-se na poesia e na prosa do gênio de Stratford – upon - Avon. Ao abordar esse perfil da obra Shakespeariana, cometi um equívoco, no tocante à autoria da seguinte frase: "O inventário da experiência humana de Shakespeare é considerado, com justiça, praticamente insuperável". A frase é real e se adequa bem ao contexto das ideias expostas, mas quem a escreveu não foi Harold Bloom, foi sim George Steiner, em seu ótimo livro Lições dos Mestres. Confiei na memória, que não correspondeu, e, portanto, sinto-me compelido a corrigir. Mesmo assim, não posso me queixar muito da memória, pois, embora tardia, ela mesma veio ao meu socorro, dando-me a chance de explicar, à guisa de redimir o lapso.

George Steiner nasceu em Paris em 1929, foi professor da Universidade Harvard e de outras grandes instituições nos Estados Unidos e na Europa, é escritor famoso e um dos mais respeitados críticos literários em todo o mundo. O livro Lições dos Mestres, o qual já li e sempre retorno para ler alguns trechos, é uma exortação aos meandros do ensinar e do aprender, da relação professor/aluno, daquilo que ele chama a "magia da transmissão". Steiner fala em três tipos da relação professor/aluno: mestres que destroem os alunos psicologicamente, discípulos que se revoltam com seus professores, e o terceiro, quando existe interação, amizade crescente, e o mestre aprende com seu discípulo enquanto lhe ensina.

E Harold Bloom? Nasceu em Nova York em 1930, professor da Universidade de Yale, escreveu mais de 25 livros, é tido como o maior estudioso da obra de Shakespeare, em âmbito mundial. Obcecado pelas questões da influência literária, logo no começo do seu livro mais recente, A Anatomia da Influência – seu canto do cisne, conforme ele próprio assim diz –, Bloom escreve: "Continuo voltando a Shakespeare nos capítulos que se seguem não por ser um bardólatra – e eu sou –, mas porque ele é inevitável para todos os que vieram depois em todas as nações do mundo".

Agora, com a correção feita, meu lapso se atenua, além de que o nome de Steiner não desdoura o de Bloom, e vice-versa.


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