Padre Cícero Romão - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Padre Cícero Romão
28.04.2010

Há cerca de duas décadas, visitei a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, durante curso de especialização em gestão universitária. Uma professora daquela instituição, que havia morado no Brasil, falou-me sobre o Nordeste brasileiro e sobre a literatura de cordel, além de discorrer sobre a vida do Padre Cícero do Juazeiro. Fiquei meio sem jeito, pois a gringa sabia detalhes da história do sertão do Padim Ciço, muitos dos quais para mim eram novidades. Se essa conversa fosse hoje, após a leitura que fiz do livro Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão, do jornalista e escritor Lira Neto, não teria passado tal vexame, na distante, fria e bonita cidade da Filadélfia. De leitura agradável e instigante, o livro de Lira Neto figura entre os melhores textos biográficos acerca do mais amado e controverso líder religioso do Brasil. Tido pelos devotos como milagreiro, o Padre Cícero Romão recebeu da Igreja várias punições, inclusive a excomunhão. Seria ele um enviado de Deus ou um mistificador? Santo ou aproveitador das crenças de um povo sofrido, nos sertões nordestinos do século XIX? Para os beatos fervorosos, mais de 1.800 anos depois de ter sido pregado numa cruz, Jesus Cristo retornou à terra, por meio de uma criança que chegou ao Crato, interior do Ceará, no dia 24 de março de 1844. Chegou amparado por um anjo de asas cintilantes que trouxe um menino e levou uma menina recém-nascida da cearense Joaquina Vicência Romana, mais conhecida por dona Quinô. Um grande clarão, no instante do parto, impediu que alguém tivesse total visão da troca das crianças. Ainda hoje, para os milhões de romeiros que vão à cidade de Juazeiro do Norte, Padim Ciço é a reencarnação de Jesus. Os folhetos de cordel, dos quais tanto me falou a professora americana, ressaltam esse fato, como nos versos do poeta João Mendes de Oliveira: “Perante a lei da verdade / não vou dizer nada à toa / Padrinho Cícero é uma pessoa / da Santíssima Trindade”. Um pouco antes de Cícero Romão, o Padre José de Maria Ibiapina formou uma legião de beatos e beatas, cruzou todo o Nordeste a pé, fundou escolas, construiu igrejas e casas de caridade. É provável que a pastoral cabocla de Ibiapina tenha tido influência no fanatismo religioso que floresceu em torno das ações do Padre Cícero, cuja ordenação ocorreu em 1870, no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Um dos fatos mais marcantes desse fanatismo foi o caso da beata Maria de Araújo, que operava o milagre de transformar a hóstia em sangue vivo, no momento da comunhão. A partir do primeiro milagre, ocorrido em 1º de março de 1889, o Juazeiro passou a ser o chão sagrado dos humildes, dos crentes, dos seguidores do Padim Ciço. A Igreja oficial nunca aceitou esse fanatismo, como também sempre criticou a atuação política do Padre, o envolvimento em lutas armadas, o vínculo com Antonio Conselheiro e com Lampião, além de outras demandas não alinhadas com as ordens e os rigores dos bispados e de Roma. Porém, tramita no Vaticano o pedido de reabilitação canônica do Padre Cícero – primeiro passo para a beatificação –, em processo que conta com a participação do Monsenhor Francisco de Assis Pereira, do clero norte-rio-grandense. A igreja de Nossa Senhora das Dores do Juazeiro do Norte, erguida pelo Padre Cícero e local do primeiro “milagre da hóstia”, passou à condição de basílica, em setembro de 2008. Este fato sinalizou a favor da reabilitação do Santo Padim Ciço por parte da Igreja Católica. O ótimo livro Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão, do escritor Lira Neto (2009), resgata muito da história social, política e religiosa do Brasil dos Séculos XIX e XX, bem como disseca a vida desse sacerdote, de cujo carisma originou-se um dos maiores centros de peregrinação do planeta.

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