O espírito da prosa - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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O espírito da prosa
11.10.2012

Antes de se ater ao romance, CristovãoTezza fez incursões pela poesia e pelo conto, viveu a linguagem do teatro e do gênero epistolar, conforme detalhou no livro "O espírito da prosa", um ensaio de autobiografia literária. Nos albores da sua vida de escritor, dedicou-se à poesia, e confessa a importância de Drummond na sua formação literária, talvez o autor que mais densamente influenciou a sua sintaxe e a sua linguagem. Em 1975/76, Tezza, nascido em 1952, resolveu morar uma temporada em Portugal, para onde foi com uma decisão: ler muito, estudar muito e escrever. Nessa época, escreveu alguns contos, os quais deram origem ao seu primeiro livro, "A cidadeinventada", só publicado na volta ao Brasil. O autor, que anos depois se tornou famoso pelos romances premiados, com obras publicadas em outros idiomas, revela seu pouco interesse pelo conto, porém, com certa nostalgia, mostra entusiasmo pelo gênero epistolar, e dedica ótimas páginas às antigas cartas, com apreciações magistrais, haja vista a que se segue: "Como o romance, a carta também nasceu apenas da palavra escrita; podemos até inferir metaforicamente que, na origem, ela é quase a razão de ser da escrita; inventou-se a escrita para que se escrevessem cartas, capazes de paralisar o tempo e encurtar a distância entre duas pessoas". CristovãoTezza indica que escreveu muitas cartas, desde o tempo em que morou em Portugal, até meados dos anos 1990, quando surgiram os meios eletrônicos das mensagens. Fala da essência romanesca na estrutura epistolar, e, a respeito, cita o excelente romance "A marca humana" - uma das minhas recentes leituras -, do norte-americano Philip Roth, enredo com maldades e intrigas vividas em um campus acadêmico dos Estados Unidos. Relata que as cartas aparecem em quase todos os seus livros publicados, além de ter escrito três romances estritamente epistolares: "Trapo" (1988), no qual um professor recebe um maço de cartas de um poeta suicida; "Uma noite em Curitiba" (1995), a história de um filho que descobre as cartas do pai em um disquete de computador; e "Breve espaço entre cor e sombra" (1998), composições literárias em forma de cartas de amor, de uma personagem italiana. Ao longo do texto de "O espírito da prosa", encontram-se geniais assertivas sobre a arte da escrita, das quais repito apenas algumas, como exemplos. Ao falar da ficção, ele ressalta a dicotomia do escritor com o narrador: "Ao escrever, eu me transformo em outra pessoa, e obrigatoriamente tenho de ver o mundo do lado de fora de mim mesmo (...). O escritor tem de saber que a voz que ele escreve em cada instante do texto não pode ser completamente a dele. Se essa seraparação se apaga, morre o prosador. Na melhor das hipóteses nascerá o poeta". Sobre os poetas: "O poeta acredita, ele mesmo, com toda a força da sua alma, em cada palavra e em cada vírgula que escreve; o poeta diz a verdade". Depreende-se tratar-se de poetas verazes, não os fortuitos fazedores de versos. Algumas afirmativas chamam a atenção: "O primeiro leitor é sempre o próprio escritor". E mais: "O escritor ausente de sua frase é a derrota do texto". O livro, lançado em 2012, faz o percurso literário de CristovãoTezza, um dos mais aplaudidos escritores do Brasil nos tempos atuais. É um ensaio autobiográfico bom de ler e rico em conceitos sobre a literatura e sobre a própria escrita. Antes, do mesmo autor, só havia lido seu livro de maior sucesso - "O filho eterno" -, um primor de romance, inspirado na sua própria experiência de pai de um menino com síndrome de Down. Agora, sinto-me propenso a outras leituras que compõem as passagens e os caminhos literários desse premiado escritor.

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