Capote, Faulkner e a Paris Review - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Capote, Faulkner e a Paris Review
17.01.2013

Em 2011, a Companhia das Letras lançou o primeiro volume de "As entrevistas da Paris Review", pelo qual brindou os leitores brasileiros com textos de conversas com famosos escritores, entre eles Truman Capote e William Faulkner. Fundada em 1953 por alguns americanos que viviam na capital da França, a Paris Review tornou-se a principal revista literária dos Estados Unidos e uma das mais reconhecidas do mundo. Desde que surgiu, já trazia a aura de se integrar às elites das letras, bem como de dirigir suas notáveis entrevistas somente para escritores com vocação para a glória literária. Em artigo na Folha de S. Paulo, o escritor Paulo Roberto Pires escreveu sobre a Paris Review: "Mitificação literária? Claro que sim. A revista nasceu disso e assim sobreviveu". Com quase seis décadas de vida, hoje sob a guarda do editor Lorin Stein, em dias recentes lançou a edição digital, com opção para acesso no IPad ou similar. Tento trazer aqui apenas esparsas amostras das entrevistas com Truman Capote e William Faulkner.

Truman Capote (1924-1984) foi entrevistado quando tinha somente 33 anos e já havia publicado vários livros. Uma revelação chega a causar espanto: não se adaptava nas escolas e foi tido como burro, subnormal. Certo dia, seus pais receberam sugestões para levá-lo a uma escola de meninos retardados. A família, então, resolveu avaliar o QI da criança, que voltou para casa na condição de gênio, assim proclamado pela ciência. – "Acredita que o estilo basta para fazer um grande escritor?" Truman Capote: "Não, não acho que baste – embora possamos indagar o que aconteceria a Proust se o separássemos do seu estilo. O estilo nunca foi um ponto alto dos escritores americanos. Nos últimos trinta anos, Hemingway, em termos estilísticos, influenciou mais escritores em escala mundial do que qualquer outro. –"Um escritor pode aprender estilo?" –"Não. Não acho que se possa definir o estilo conscientemente, tanto quanto ninguém pode definir a cor dos próprios olhos. Afinal, seu estilo é você. No fim das contas, a personalidade de um escritor tem muito a ver com sua obra. A personalidade tem que estar humanamente lá". –"O que o senhor escreveu primeiro?" –"Contos. E até hoje minhas ambições mais constantes continuam em volta dessa forma".

Prêmio Nobel de Literatura de 1949, William Faulkner nasceu em 1897, no Mississippi, e faleceu em 1962. A entrevista da Paris Review foi feita em 1956, na fase de grande prestígio do escritor, tido como um dos expoentes da literatura norte-americana. Sua obra reflete, em grande parte, as agruras sociais das populações do sul dos Estados Unidos, após a derrota na guerra da Secessão. É autor de muitos romances, contos, poemas e crônicas. Sua escrita é vista como complexa, com longas frases, pontuação irregular, a qual se insere no chamado "fluxo de consciência" (stream of consciousness), presente em Proust e em Joyce, entre outros grandes escritores.

Durante a entrevista, foi-lhe dito que algumas pessoas afirmavam não entender sua linguagem, mesmo depois de lerem o texto por duas ou três vezes. À pergunta sobre o que diria para essas pessoas, Faulkner respondeu: "Que leiam quatro vezes". Ele revela sua gratidão a Sherwood Anderson, a quem atribui a graça de ter se tornado um escritor. Sobre sua obra, declarou: "Se pudesse escrever toda a minha obra de novo, estou convencido de que a faria melhor. Sou um poeta fracassado. Talvez todo romancista queira antes escrever poesia, mas descubra que não pode, e aí experimenta o conto que é a forma mais exigente depois da poesia. E, fracassando nisso, só então começa e escrever romances". Disse que o escritor precisa de três coisas: experiência, observação e imaginação. "E a inspiração?", perguntaram-lhe:" Não sei nada a respeito da inspiração – ouvi falar, mas nunca a vi".


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